Uma apresentação, ou uma aula, ou uma palestra, antes de tudo, é uma composição estética. A pessoa que fala deve soar agradável, sua presença deve proporcionar agradável sensação visual, e seu discurso deve causar boa impressão às pessoas da plateia. Nessa relação estética, deve haver uma aproximação evidente entre o objeto do discurso e o espectador/ouvinte.
Mas uma apresentação é, também, uma prestação de serviço à audiência. Por este motivo, reveste-se de importantíssimo aspecto utilitário. Em cada oportunidade, sempre única, de haver à disposição pessoas com quem compartilhar ideias, o orador deve aproveitar, usufruir do momento e torná-lo útil para si mesmo, e para quem o assiste. Quantos são os artistas que têm o que dizer, mas lhe faltam palcos e audiências?
O apresentador será, no momento do discurso, um artista, com a função social de desempenhar um relato do seu tempo. Cada discurso, então, deverá ser um relato privilegiado, exclusivo e único, expressando sobre o tema abordado informações que as pessoas da plateia não puderam captar ou materializar de outras fontes.
Constantin Stanislavski, já em cadeira de rodas, disse uma vez a dois de seus alunos que foram vê-lo em Moscou:
– Não me copiem. Adaptem-me. Os artistas, e de resto todas as pessoas, têm que aprender a pensar por si mesmas e descobrir novas formas.
Esta lição resume a função do orador, em um discurso. Ele deve ousar, deve criar, mas deve ser único, e deve ser útil.
Ao mesmo tempo, o apresentador respeitará os condicionamentos culturais de seu público, todos os envolvimentos trazidos pela ambientação, as limitações definidas pelo tema, e as regras da boa comunicação.
Este é o conceito básico a ser seguido para estruturar um discurso: apresentar os argumentos sob a forma de dados informativos que chamem o público à razão, e assim o convença. Sem medo. Não há razão de ter medo de fazer uma apresentação, porque se o conteúdo é bom, basta que o formato do discurso seja trabalhado para estabelecer a relação estética com a plateia.
Peggy Noogan foi redatora de discursos para vários presidentes dos Estados Unidos. Ela inicia um de seus artigos com uma observação irônica:
“A mente é algo maravilhoso. Começa a funcionar no minuto em que você nasce e não para de funcionar… até o dia em que você tem que falar em público.”
A limitação pode ser verdade para muita gente, mas estou certo de que falar em público é uma técnica que se aprende, e que a prática transforma em sucesso efetivo. Você pode falar em público. Basta se preparar, estar atento, aprender e praticar. Desde que você descubra o prazer de falar em público. O prazer elimina o medo. Porque, e simplesmente porque, o que causa o medo é a ausência do prazer.
Observe este exemplo de tirocínio, entre duas pessoas que estavam proferindo discursos informais, um para o outro, e como se saíram bem:
Um empresário saiu de São José dos Campos (cidade do interior do Estado de São Paulo, a cerca de 100 km da capital), no seu aniversário, e foi jantar em São Paulo. Quando o maïtre perguntou se estava satisfeito com a comida, ele comentou:
– Tenho que estar! Eu vim de São José dos Campos somente para jantar aqui!
– Isso não é nada – respondeu o maïtre, sorrindo. – Eu vim especialmente da França para servir o senhor.
Cada um desses dois personagens estava feliz ao se comunicar. Estabeleceu uma ligação de prazer entre o raciocínio, a exposição das ideias, a observação do outro e a resposta que recebeu – que por sua vez o incentivou a criar um novo discurso para prosseguir a conversa, inteligentemente, alegremente. Em suma, com prazer.
Voltarei a este tema em breve.
Um abraço a todos.
Alguns, como você, têm a verve. Certos atributos são inatos, mas, sem dúvida, há sempre a possibilidade de evoluir. Volte sim ao tema.
Obrigado, amigo. Voltarei em breve a falar nisso. Abração
Bom aperitivo, caro Joaquim Maria.
Obrigado, Daniel. O tema é bom e tenho refletido bastante a respeito. Vou ampliar nos próximos posts.