Se você domina plenamente o assunto que vai apresentar, não há razão para ter medo de falar em público. Mas, diante de uma plateia, evite exagerar. Controle a insegurança. Mas, no caso oposto, a recomendação também vale. Ainda que esteja bem preparado, não se considere um professor de oratória no momento do discurso. Seja nada mais e nada menos do que você mesmo. Seja humilde, seja simples e seja natural.
A plateia, como corpo coletivo, reage sempre de maneira muito direta à postura de cada pessoa que se apresenta para um discurso. Se observar agressividade, arrogância, superioridade, impaciência, certamente se voltará contra o apresentador. E os resultados serão imprevisíveis, mas nunca positivos.
Os componentes da plateia, como indivíduos, também têm reações diferentes, pelos motivos mais variados deste mundo. E não cabe ao orador adivinhar quais sejam. É claro que você deve prestar atenção às reações da audiência, mas não sofra demais.
Benito Mussolini, de quem se pode debater as ideias políticas, mas jamais as qualidades de orador, costumava dizer: “Sempre achei que é mais fácil convencer as massas do que uma só pessoa.”
Portanto, trate a plateia como um conjunto de pessoas, e não dirija o olhar exclusivamente a este ou àquele indivíduo durante a apresentação, a não ser para responder a uma pergunta, por exemplo. Evite fixar o olhar em uma ou outra pessoa da audiência, porque cada pessoa tem um determinado comportamento durante uma apresentação. Adivinhar os motivos de um comportamento poderá causar a você impressões erradas.
Imagine que você está fazendo um discurso.
– Uma pessoa olha para você com o cenho franzido. Isto não significa necessariamente que ele discorda do que está sendo dito. Pode significar apenas que ele tenha dificuldades para enxergar ou que esteja sofrendo de uma pequena dor de cabeça.
– Uma pessoa boceja na plateia. Isto não quer dizer obrigatoriamente que o discurso seja entediante. Pode significar apenas que aquela pessoa não teve uma boa noite de sono e não esteja conseguindo conter os bocejos.
– Uma pessoa se vira para o lado para cochichar com o companheiro. Muito provavelmente não estará falando de você ou do discurso, mas de uma coisa urgente de que se lembrou e que precisa dizer rapidamente.
– No meio da apresentação alguém do público se levanta e sai do recinto. Será um acinte contra você? Nada disso. Quase sempre é alguém que se lembrou de um telefonema urgente, ou quem sabe até é alguém da organização do evento, que teve que ir cuidar de algumas providências inadiáveis?
Lembre-se: ao fazer um discurso ou uma apresentação você não foi levado a uma condição de vítima. Não imagine que todas as reações da plateia têm ligação direta, negativa e inquebrantável com a sua apresentação. A plateia dá sinais, é verdade, mas você não pode ficar acorrentado a eles.
Apresentar-se em público significa ser o ator principal de um teatro de imagens. Você é o centro do palco, mas não é o centro do mundo. Ao mesmo tempo em que o orador precisa ser ele mesmo, há que atuar como se fosse um personagem, construído, elaborado, mas sem afetação e sem falsidade.
Apresentar-se em público requer algum talento, requer memória, requer imaginação, requer inspiração, e requer sensibilidade.
Todas as pessoas têm talento para se comunicar. A comunicação é uma instituição orgânica no ser humano.
Todas as pessoas têm memória. Ademais, a memória pode ser treinada.
Todas as pessoas têm imaginação. É o que basta para ousar, para criar imagens novas e diferentes para o seu discurso.
Todas as pessoas têm inspiração. É essa capacidade de inserir um toque de surpresa no seu discurso, submetendo-os ao agradavelmente inesperado. Basta buscar na inspiração dos outros a própria inspiração: vamos ler poemas, observar pinturas, ouvir músicas.
E todas as pessoas têm sensibilidade. A capacidade de se impressionar com o mundo. As alegrias dos outros, as tristezas dos outros, as vitórias dos outros, atingirão o nosso eu com maior ou menor intensidade. A maneira como seremos impressionados merece disciplina, para não causar estados nervosos.
ENFRENTANDO O MEDO
“A vida é tão bela que chega a dar medo,
não o medo que paralisa e gela, estátua
súbita, mas este medo fascinante e fremente
de curiosidade que faz o jovem felino seguir
para a frente farejando o vento ao sair, a
primeira vez, da gruta.”
Mário Quintana
Não é exclusiva dos candidatos a orador a sensação do medo de se ver em frente a uma plateia. As pessoas têm medo, porque o medo é a ferramenta concebida pela arquitetura psicológica do ser humano para fazê-lo entender e superar – quando possível – suas limitações. Medo de não ser entendido, medo de não ser aceito, medo de não dar certo, medo de errar, medo de não ser amado.
Em resumo, o ser humano quer ser feliz. Para isso precisa do outro. Nos momentos em que o elo entre uma pessoa e outra pessoa se rompe, ou ameaça se romper, cria-se uma condição de medo.
Vamos trabalhar com a eliminação do medo, em alguns exemplos de situação que você, leitor, pode enfrentar enquanto fazendo uma apresentação.
SITUAÇÃO 1 – Durante o meu discurso, uma pessoa do auditório me olha fixamente, com ar muito sério, cara fechada.
REAÇÃO DO MEDO – A atitude daquele ouvinte me paralisa, porque imagino que ele está indo contra o que eu digo. Perco a concentração. Instintivamente olho para ele o tempo todo, mesmo que existam outras pessoas na plateia. Começo a suar. Parece que iniciei um duelo com essa pessoa.
REAÇÃO DO ORADOR PREPARADO – Em primeiro lugar, preciso aplicar raciocínio à situação e perceber que, quase certamente, a disputa que comecei é, na verdade, comigo mesmo, e não com ele.
Preciso pensar se efetivamente aquela pessoa é importante dentro do conjunto do auditório que me ouve.
1) Se não é importante, a melhor reação é ignorar a cara feia e me desligar das suas reações.
2) Se é importante, preciso refletir sobre
- a) se realmente a reação é negativa – ele pode simplesmente estar concentrado em analisar o que digo e o esforço se reflete em uma aparência séria, não necessariamente contrária.
- b) avaliada a possibilidade de que algo que eu mencionei tenha gerado reação negativa, reconstruir o argumento de maneira mais sutil, ou atenuada, e investigar a reação que ele poderá apresentar – mas tenho que ser natural; ele não pode perceber que polarizou a minha palestra
- c) sem mudar o ritmo da palestra, falar de um outro assunto de aceitação coletiva – é a digressão; a plateia inteira estará predisposta em meu favor, inclusive aquele ouvinte. Como exemplo: elogiar uma personalidade importante para a cidade onde se realiza a palestra, enumerar as qualidades geográficas da região, falar da importância estratégica daquela plateia para o momento político nacional. Depois volto ao assunto que pode ter gerado a reação negativa e avalio se a postura do ouvinte mudou.
- d) Se aparência do ouvinte mudou para melhor, o impasse foi superado. Se ele volta a ficar carrancudo, repita a técnica mas com outro tipo de exemplo e não volte ao assunto que pareceu ser o detonador da “crise” .
SITUAÇÃO 2 – Durante o meu discurso, pessoas do auditório bocejam seguidamente. Parecem dispersas e desatentas. Algumas conversam entre si. Outras se levantam e deixam o auditório.
REAÇÃO DO MEDO – Tenho medo de que eu não esteja sendo competente em manter a atenção do grupo e isto me faz perder continuidade e foco. Passo a gaguejar e a ficar disperso também.
REAÇÃO DO ORADOR PREPARADO – Preciso encontrar um elemento de impacto para adicionar à palestra.
1) Há algumas formas de aumentar o interesse da audiência. Numa palestra sobre Direito a estudantes de ensino médio, lembrar de algum caso espetacular e típico do Direito Penal, sempre entusiasmante. Como homicídios ou assaltos de alcance nacional, que estiveram na imprensa em algum momento recente.
2) Qualquer exemplo que inclua relatos de crueldade costuma de imediato capitalizar a atenção da plateia. Claro que lembrar de casos assim é um recurso extremo, mas pode ser usado, com o cuidado necessário para não banalizar a crueldade.
3) Pode ser que a forma que estou usando seja monótona. Aí devo mudar a técnica. Uso fábulas, parábolas ou histórias, porque a melhor maneira de conquistar a atenção de uma plateia é estimular o seu imaginário, o seu componente emocional. Em seguida faço a ligação do que contei com o foco central da palestra.
4) Procuro encontrar formas diferentes de angariar simpatia, jamais reforçando o comportamento que censurei. Não posso usar frases como “prestem atenção!”, “ vocês estão cansados?” ou “fiquem mais um pouco; prometo que já estou acabando”. Isto vai alertar a parte da plateia que não está desatenta para o problema, e as pessoas vão começar a pensar não no que eu digo, mas na razão de haver pessoas dispersas no auditório.
5) Em hipótese alguma encerro a palestra e vou embora sem estar no auge da aceitação, ou estarei condenado para sempre como orador.